quinta-feira, 31 de agosto de 2017

SERÁ QUE DÁ PARA SER FELIZ COM TANTO TRABALHO?


Tenho escutado bastante esta frase ultimamente. As pessoas estão trabalhando num ritmo tão alucinado, que sobra pouco tempo para outras atividades na vida. Parece que a vida nos últimos anos se resumiu em trabalhar intensamente da manhã à noite. É um grande paradoxo. Quando se achava que a tecnologia iria trazer mais eficiência nos processos, e com isso sobrar mais tempo para outras atividades, o que aconteceu? Foi exatamente o contrário. Todo este avanço trouxe uma sobrecarga de trabalho para as pessoas, sem precedentes. Quando se pensava que seria mais fácil ser feliz, fazendo as maquinas trabalharem para nós, o que aconteceu foi exatamente o inverso desta expectativa.

Quem trabalha em grandes empresas recebem 100, 200, e-mails por dia. Parece que o trabalho agora se resume em mandar e receber e-mails. E quanto lixo roda nessas mensagens eletrônicas, que são indesejados, mas não tem como controlar. Lembro que quando comecei a trabalhar numa multinacional americana na década de 70, para enviar uma única carta para os Estados Unidos levava 15 dias. E o curioso é que sobrevivíamos e produzíamos resultados.

Sou totalmente a favor da modernidade. Os benefícios são imensos em todos os campos da atividade humana. A minha reflexão é: Será que a velocidade foi exagerada? Será que não estamos valorizando em demasia a tecnologia em detrimentos de outras competências humanas?  Será que temos um balanço adequado entre a carga de trabalho, e a capacidade humana de realiza-lo?

As empresas cada vez buscam reduzir os seus quadros de profissionais, em busca de maior eficiência econômica e competitividade. Até aí nada errado, mas quem fica na empresa tem cada vez mais coisas para fazer, num ritmo frenético e numa pressão psicológica enorme. Será que a longo prazo isso será bom para as empresas?

Quando converso com os jovens, na maioria das vezes não sinto que estão felizes nos seus empregos. Gostam da profissão que escolheram, até porque existem hoje muitas possibilidades de carreira, mas não se sentem realizados onde trabalham. O sonho da maioria em geral, é ter o seu próprio negócio ou desenvolver uma plataforma ou aplicativo na internet para ganhar dinheiro e ser mais feliz. Acho que este comportamento deveria ser um sinal para as empresas com relação ao seu ambiente de trabalho. No futuro o que vai concorrer para contratar as pessoas talentosas, não serão as empresas competindo entre si, mas outras formas de trabalho que sejam mais atrativas para as pessoas, com mais qualidade de vida. Creio que está na hora das empresas refletirem a respeito disso.

O mais engraçado é que, muitas vezes, as empresas ficam fazendo coisas que são verdadeiros paliativos, para não dizer algo mais contundente. Criam escritórios com poltronas, sofás, mesa de sinuca, barzinho, áreas de descompressão. Depois faz a pessoa trabalhar 10, 12, 15 horas por dia e se manter conectado o tempo todo inclusive no final de semana. Todo mundo acha isso moderninho, mas na minha visão é um tema que demanda mais reflexão. Muitas vezes também gastam um monte de dinheiro em pesquisa de clima e participam da pesquisa das melhores empresas para se trabalhar, para se auto convencerem de que está tudo bem. Discutem sobre como engajar mais as pessoas no trabalho, entretanto o nível de stress e de pressão por resultado, não pára de aumentar.

Entendo que sempre existirá uma pressão por resultados, por eficiência, etc. e isso faz parte do mundo capitalista que vivemos. O que eu não entendo é perceber que as pessoas estão cada vez mais infelizes com o seu trabalho. Muitas aguentam esta situação, porque são pragmáticas, e sabem que precisam do dinheiro para pagar as contas. Por outro lado, vejo as empresas tratando este assunto de maneira superficial. Não adianta ficar discutindo como engajar mais as pessoas se não se aprofundar na análise da carga de trabalho e das demandas existentes. Será que a estrutura organizacional é adequada para a carga de trabalho? Será que a quantidade de pessoas é suficiente para atender a necessidade do negócio? Quanto a empresa está investindo no desenvolvimento das pessoas para serem mais eficientes?

Se você quer atender bem o seu cliente, tem que começar por cuidar bem do seu colaborador. Se este não estiver feliz no seu trabalho, não irá produzir o resultado esperado, e não se sentirá jamais como dono do negócio.




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