quinta-feira, 10 de março de 2016

O PERIGO DA CULTURA FUNDAMENTALISTA EM ORGANIZAÇÕES

Parece estranho falar de algo como o fundamentalismo em organizações. Essas questões estão mais relacionadas com Países ou mesmo com organizações religiosas, políticas, etc., não é verdade? Entretanto eu gostaria de chamar a atenção sobre este tipo de “doutrina”, que muitas vezes faz parte de organizações e não é tão evidente para as pessoas.

Ocorre que, quando essa forma de cultura, seja de um País ou de uma organização é implantado, em geral é feito uma “lavagem cerebral”, para que todos pensem e ajam da mesma maneira em prol do bem comum. O problema é saber o que é o bem comum, e para quem é o benefício. Outro problema causado pela “cultura fundamentalista” é que as pessoas começam a perder o senso crítico, do que é certo ou errado. Em geral, as lideranças são formatas e criadas “dentro de casa”, para que fiquem cada vez mais doutrinadas ao longo do tempo.
Conheço pessoas que trabalharam em algumas organizações que tinham um pouco deste perfil. A tal ponto que, quando elas falavam algo que não correspondia à expectativa da liderança, eram imediatamente alertadas de que esta forma de pensar não era de “um membro desta empresa”. Isso repetia-se muitas vezes. Se a pessoa insistia em pensar ou se comportar de forma diferente da organização, obviamente eram demitidas. Para fazer uma carreira sólida neste tipo de organização é necessário se submeter à “cultura” e demonstrar total lealdade aos princípios, valores, etc., que regem a organização.

Gosto de usar uma metáfora sobre cultura organizacional que denominei como: “a cultura do pickles”. É mais ou menos assim: As empresas gostam de falar muito de diversidade, da importância de contratar pessoas diferentes para aumentar a diversidade de pensamento, etc. etc. Muito bem. É como se cada pessoa contratada fosse um legume com sabor diferente, porque é importante ter cebola, cenoura, tomate, etc. O problema é que, assim que são admitidas, as organizações começam a enquadra-las na “cultura”, para que elas entendam o ambiente de trabalho e forma como se trabalha na empresa. A isso eu chamo do pote de pickles. Os vegetais que tinham sabores próprios são colocados num mesmo recipiente e passado algum tempo todos eles terão exatamente o mesmo paladar. Gosto de pickles, que neste caso é o sabor da cultura da organização. Tudo igual...
Até aí tudo bem, as empresas precisam ter as pessoas focadas nos mesmos princípios, visão, missão, etc. O problema é quando isso se torna algo quase “religioso”, onde as pessoas por perderam o senso crítico, começam a fazer coisas ou tomar decisões que as colocam em risco, em nome de uma “cultura empresarial”.

Se observarmos os recentes escândalos acontecidos no Brasil, notaremos que certas empresas envolvidas nestes episódios e caracterizadas por “cultura fundamentalista” talvez possam ter levado seus executivos a tomarem certas decisões, que os colocaram em maus lençóis. Do outro lado, no campo político, há grande chance de que tenha acontecido o mesmo. Trata-se de uma suposição e também um alerta, pois este risco existe em toda atividade ou organização fundamentalista onde, em princípio, só existe uma verdade, que é a da própria organização.

Todo cuidado é pouco quando há indícios de comportamento fundamentalista, seja num País, numa religião, num partido político, numa entidade filantrópica e principalmente, numa organização empresarial. As pessoas tendem a agir e tomar decisões de forma robótica, de acordo com a doutrina, e o pior, sem questionar.
Ter um cultura forte, que reflita os valores e a missão da organização é bom, desde que seja de uma forma sadia, alinhada com os princípios universais da sociedade, do bom senso e que seja absolutamente ética e íntegra. Além disso é muito importante praticar o que se fala, o que muitas vezes, não se vê nessas cultura fundamentalistas. O que é falado e passado para as pessoas, muitas vezes não se reflete no comportamento das suas lideranças. Isto demonstra claramente uma desconexão entre a teoria e a prática. Não há como sustentar e ter credibilidade numa cultura que esteja lastreada neste tipo de conduta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário