sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

CARREIRA: DE QUEM É A RESPONSABILIDADE?



Eu sou do tempo em que, nas grandes organizações, a responsabilidade da progressão na carreira, era da empresa. Estou falando da década de 70. Na década de 80 teve início o processo de Globalização e com isso as crises organizacionais também surgiram. As empresas tiveram que se ajustar para serem mais competitivas. Quem não lembra do termo “Reengenharia”? Esta situação obrigou as empresas a quebrarem dois contratos com as pessoas. Não haveria mais a relação de “lealdade” que, de alguma forma, gerava uma certa “garantia de emprego”. Se você for “leal” à organização, ela também em retribuição lhe protegerá nos momentos difíceis. O outro contrato era:  “Não se preocupe com a sua carreira, porque nós cuidaremos dela. Só não faça nenhuma bobagem que possa lhe prejudicar ”. Era assim que as coisas, de um modo geral, funcionavam nas grandes empresas.

Com a competição se acirrando na década de 90, as empresas não puderam mais garantir estes contratos. Um novo conceito foi criado, o que complicou ainda mais a gestão de carreira. Foi o “Flat Organization” ou Organização Horizontal. Em resumo, era a eliminação de vários níveis organizacionais, para dar mais agilidade e competitividades nas decisões. A decisão era acertada, entretanto este novo modelo tirou a perspectiva de carreira de muita gente. Não havia mais tantas posições interessantes para as pessoas progredirem nas suas carreiras. Por outro lado as empresas também não sabiam mais como lidar com esta situação. Outros termos foram criados como “job rotation”, etc. para tentar apaziguar os interesses e as ambições das pessoas. Também neste momento as empresas que já não conseguiam oferecer muitas alternativas, delegaram para as pessoas, exclusivamente, a responsabilidade por suas carreiras. O que na verdade estava correto. A responsabilidade primária pela carreira da pessoa, é ela mesma.

Ao fazer isso as empresas “se livraram” de um compromisso grande, mas criaram um outro problema. Já que a obrigação passou a ser da pessoa, deu a ela também a possibilidade de escolher, com maior flexibilidade, o empregador onde quisesse fazer a sua carreira. O turnover aumentou de forma significativa, e o contrato de “lealdade” foi o extinto de vez. Enquanto a economia e os negócios estavam calmos e crescendo pouco, de uma forma ou de outra as empresas conseguiam gerenciar os seus talentos.

Entramos no novo milênio e as empresas se dão conta de que muitas pessoas da geração baby boomers vão se aposentar, e o que é pior, não há suficiente número de talentos para repor este grande grupo de pessoas que sairão do mercado de trabalho. O pânico é geral. Não temos mais o contrato de lealdade e também a carreira é uma responsabilidade da pessoa. O que fazer?

Surge no horizonte uma nova conversa e discussão a respeito de “Engajamento de Talentos”. É a tentativa que as empresas têm para resgatarem, em outro formato, o “contrato de lealdade “ que existia no passado. O que fazer para as pessoas se sentirem mais engajadas com o seu trabalho e por consequência com a empresa? Muitas ações têm sido feitas neste sentido. As empresas têm procurado preparar as suas Lideranças para lidarem melhor com este tema e criar ambientes de trabalho que sejam mais acolhedores e engajadores para os colaboradores. Atualmente existem empresas que têm até mesa de sinuca no meio de escritório....

Um assunto não ficou bem resolvido é como gerenciar e lidar com a carreira das pessoas nestes novos tempos, já que até então a responsabilidade ficou exclusivamente por conta das pessoas. As empresas estão começando a resgatar esta parceria no desenvolvimento da carreira das pessoas. Sim, a responsabilidade primária é das pessoas, mas a empresa também pode ajudar neste processo, e se beneficiar muito disso. Uma saída que tem sido trabalhada é o desenvolvimento de “Trilhas de Carreira”, ou “Caminho de Carreira”, ou “Career Road Map”.

A minha consultoria tem sido muito demandada para estes projetos, que consistem em definir as possíveis direções de carreira por área, para que as pessoas possam se preparar melhor e definir a trajetória que querem seguir. Quais são as possibilidades de progressão profissional possíveis? Quais são os requisitos e competências para cada função? As pessoas passam a saber de forma transparente o que a empresa deseja e como elas podem se preparar para os próximos movimentos de carreira.
Esta ação é um resgate da parceria de carreira entre as pessoas e a empresa. No final todos ganham. As pessoas passam a ter uma perspectiva clara de como podem evoluir dentro da empresa e a organização ganha, pois as pessoas estarão melhor preparadas para assumirem novas funções.

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