quinta-feira, 30 de abril de 2015

A VIDA SEM SOBRENOME JURÍDICO


Quando começamos a trabalhar e ao longo da nossa carreira é comum o sobrenome jurídico onde se trabalha, ser associado ao nosso próprio nome. Eu já fui Felipe da Dow, Felipe da Alcoa, Felipe da Monsanto, Felipe da Bristol Myers Squibb, e finalmente hoje eu sou Felipe Westin, da Westin.....
Não percebemos que utilizamos este sobrenome jurídico como se fosse parte mesmo do nosso nome, da nossa família, até o dia em que nos damos conta de que isto não é verdade. Isso acontece quando somos demitidos, ou quando pedimos demissão de uma organização. A primeira sensação é que realmente a pessoa ficou órfão da família. A pessoa vai visitar um amigo em alguma empresa, e a recepcionista pergunta você é fulano de onde? Parece que no mundo empresarial todo mundo tem que ter um sobrenome jurídico para ser identificado. Não se percebe, mas isto causa um certo constrangimento, para aquela pessoa que naquele momento está num processo de transição de carreira, ou não está vinculado a nenhuma organização. Não sabe nem como falar direito com a Recepcionista. Portanto o sobrenome é o da pessoa física, dela mesmo, mas por falta de uso soa até estranho....
No mundo corporativo acostumamos com uma porção de coisas que não nos pertence, mas sem notarmos pensamos que tudo aquilo faz parte da nossa vida. Exemplo: o carro que empresa concede, a passagem de classe executiva, os hotéis 5 estrelas, a sala bonita com móveis modernos, e vai por aí afora. Tudo isso era “emprestado” e quando se perde o sobrenome jurídico, da noite para o dia ,todos esses lindos benefícios somem como por um passe de mágica....
Conheço profissionais que nem sabem como funciona um banco para tirar dinheiro, ou pior ainda, como enviar uma carta no correio. Outros nunca tiveram que mandar o seu carro para lavar ou abastecer. Tudo isso é providenciado graças ao seu sobrenome jurídico....
Claro que é muito bom ter todos esses benefícios, “mordomias”, etc., mas temos sempre que lembrar que essas coisas todas são passageiras. É uma questão de manter a sanidade mental e não se iludir achando que isso vai durar para vida toda. Posso garantir que não vai e isso é absolutamente normal.
Ter o nosso nome associado a um sobrenome jurídico imponente e importante, claro que é bom e automaticamente confere um “status” de profissional diferenciado, competente, e bem sucedido. Talvez até por isso assumimos muito rapidamente o sobrenome jurídico, pois este nos confere uma diferenciação e um reconhecimento de distinção perante a família, os amigos e a sociedade de um modo geral.
O problema é quando chegam os tempos das vacas magras, e muitas pessoas perdem os seus empregos, e se desesperam pois não se prepararam (e aqui entre nós, é sempre muito difícil estar preparado para esta situação). Conheci profissionais de alto nível que quando foram demitidos não contaram para a família. Frequentavam uma empresa de outplacement, onde passavam o dia todo, para fingir que continuavam trabalhando na mesma empresa. Pessoas competentes, preparadas, mas que associaram o seu nome ao sobrenome jurídico de tal forma, que não conseguiam lidar com este assunto de forma tranquila, como parte da vida.
Empresas são lugares onde muitas pessoas ganham a vida com os seus trabalhos, mas não são parte integrantes da sua família. Ter o sobrenome jurídico de uma organização sempre será algo temporário na vida de um profissional, salvo exceção, terão outros sobrenomes ao longo da sua carreira.
Se você está passando por um momento de transição, lembre que muitas pessoas assim como você já passaram ou passarão também. Não tem nada de especial. E mudar de sobrenome jurídico, muitas vezes pode ser bom ou até a melhor alternativa para o indivíduo. Se vai trocar de sobrenome, que seja para um melhor e que seja feliz.

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