terça-feira, 15 de agosto de 2017

LIDERANÇA "SOFT POWER": SERÁ QUE É PARTE DA NOSSA CULTURA?


Lendo um artigo no jornal desta semana, um Cientista Político Americano se referia ao Brasil como uma Economia “Soft Power” e por isso não consegue alcançar níveis internacionais de competitividade e produtividade. A matéria, que é bem realista, desperta certa raiva, pois o autor é bastante crítico com relação a nossa forma de agir perante outras economias no mundo. Como já morei e trabalhei duas vezes nos Estados Unidos, consegui interpretar o que foi descrito. O Brasil é uma Economia ainda bastante fechada, o que faz os empresários, de uma certa forma, se acomodarem no desenvolvimento dos seus produtos. Se tivéssemos uma Economia aberta para valer, talvez muita gente não sobreviveria por falta de competitividade, tecnologia, baixos investimentos, etc. Como temos um mercado de 200 milhões de pessoas, isso permite que muitos empresários consigam se manter ativos, mesmo sendo pouco competitivos dentro do padrão internacional. Do ponto de vista macro mundial, o Brasil prefere adotar uma política “Soft Power”, sem ter uma posição de liderança mais expressiva. Se considerarmos o tamanho do nosso País, já era hora para termos uma posição mais relevante no cenário mundial. Só que, para liderar precisa se “expor” para poder se “impor”. Isso parece não ser muito o nosso estilo, culturalmente falando. Não queremos assumir uma posição mais agressiva, que eventualmente vá criar inimigos ao longo do caminho.

Não há na história nenhuma nação que foi dominante, que não tenha criado problemas, ou competições, com outras nações. O único lugar que temos uma postura diferente é quando falamos de futebol, e mais recentemente de alguns outros esportes. Temos mostrado mais o nosso perfil agressivo neste campo, porém muito menos em se tratando de negócios, na minha modesta maneira de ver. Poucos são os setores que se destacam mundialmente por nossa postura mais agressiva. Um bom exemplo é a agricultura e nos minerais onde nos destacamos. Temos uma condição natural de competitividade sem precisar de muito esforço, no sentido de liderança, para ter um papel relevante. Outra exceção tem sido a Ambev, e a Embraer, mas ainda é muito pouco.

Se este cenário fizer sentido, e para mim faz, isso reflete diretamente no nosso perfil de Liderança dentro das organizações. De um modo geral, com algumas exceções, as Lideranças no Brasil são do tipo “Soft Power”, talvez influenciado com o nosso tipo de cultura. Somos uma cultura do relacionamento, muito diferente dos Países Europeus e dos Estados Unidos. Estes são culturas mais de processos e sistemas. Talvez por isso levam muitas vantagens nas negociações internacionais. Não se importam muito como as pessoas ou os Países se sentirão, desde que o resultado para eles seja plenamente atendido.

Voltando para este perfil da Lideranças nas empresas, dentro da nossa cultura os Líderes se preocupam muito com a sua aceitação pelos liderados. Em geral não gostam de ser muito “duros”, na busca de um resultado, pois isso poderão criar um ambiente muito beligerante impactando negativamente o relacionamento entre as pessoas. Por este motivo, em nossa cultura dar ou receber feedback é tão difícil, porque as pessoas muitas vezes não diferenciam o que é uma crítica profissional ou pessoal. Se a crítica for positiva, não tem problema, mas se for negativa, existe uma grande tendência de ser compreendida como uma crítica à pessoa e não ao trabalho.

Isso leva a Liderança a adotar uma postura “Soft Power”. Obviamente que existem exceções no mercado, especialmente nas empresas multinacionais, tendo em vista que estas trazem muito a cultura dos seus Países de origem. Ora, se temos um tipo de Liderança “Soft Power”, obviamente que a nível macro isso vai impactar a postura do Brasil, com relação aos seus negócios comparativamente a outros Países no mundo. Se queremos de fato ser competitivos para valer, teremos que mudar muito a nossa postura em relação a Liderança, tanto individual como quanto nação. A pergunta que eu faço é: Será que queremos mudar isso? Será que as Lideranças Empresarias e Políticas têm o desejo de fazer esta transformação para o País ser mais competitivo e protagonista no mundo? Se não avançarmos neste campo, dificilmente teremos um papel de Liderança e protagonismo no cenário mundial.

Nenhum comentário:

Postar um comentário