quarta-feira, 8 de março de 2017

COMPORTAMENTO DE DONO DO NEGÓCIO, MAS PAGAMENTO COMO EMPREGADO


As empresas sonham e desejam que todos os seus colaboradores se comportem como verdadeiros donos do negócio. Acho o conceito muito bom, porém na hora da remuneração, as organizações querem pagar apenas como empregado. Esta equação fica difícil de fechar, porque a remuneração das pessoas influencia diretamente o seu comportamento. Por exemplo: para o pessoal mais operacional, quando é exigido trabalho extraordinário, estes recebem pelas horas extras adicionais. Muitas vezes o problema das empresas é controlar o excesso dessas horas, para não virar um “hábito” e se incorporar no pagamento das pessoas. A dificuldade neste nível é que muitas vezes, a remuneração é baixa, e os funcionários buscam fazer horas extras para terem um ganho adicional.

Quando analisamos as categorias acima do operacional, que muitas empresas definem de forma equivocada como cargos de confiança para não pagarem horas extras, o comportamento colaborativo, muitas vezes não é tão espontâneo. Ao contrário, quando alguém tem que fazer horas extraordinárias o sentimento é de “exploração”, de abuso por parte da empresa. Não há compensação remuneratória neste caso, mas apenas uma obrigação de colaborar, para ficar bem com o chefe, ou mesmo não correr o risco de perder o emprego por falta de colaboração.

Indo um pouco mais acima, chegamos aos cargos gerenciais, que por sua natureza são considerados efetivamente como “funções de confiança”. Essas posições, quando muito recebem um PLR um pouco mais diferenciado, ou um bônus, que na maioria das vezes é bastante limitado. Só que boa parte do comando das operações das organizações está nas mãos desta liderança intermediária, que fica entre a Direção e as funções operacionais.

Avançando um pouco mais chegamos aos cargos de Direção. Este nível, além da remuneração fixa, tem uma bonificação melhor e outros benefícios em função da competitividade do mercado. Mesmo nestes níveis, os pagamentos têm maior ênfase no salário fixo do que na parte variável, baseada em resultado. Claro, como tudo, há exceções no mercado.

O paradoxo que as empresas vivenciam é que elas desejam que as pessoas tenham comportamento de “donos do negócio”, mas em geral não possuem um sistema de remuneração variável, correspondente a este desejo. Esta situação acontece basicamente em todos os níveis da organização. Como uma empresa pode exigir este comportamento, se muitas vezes o resultado alcançado não será compartilhado de uma forma mais efetiva entre as pessoas? Um verdadeiro dono do negócio, se tiver que virar a noite ou trabalhar no final de semana, o fará porque sabe que o resultado será compensador. Por outro lado, uma pessoa que é empregada, ao fazer a mesma coisa sem resultado adicional na sua remuneração, provavelmente não terá a mesma motivação e comportamento do “dono do negócio”. É uma questão de lógica. Talvez o faça somente por uma motivação pessoal ou mesmo receio de perder o emprego.  

Da mesma forma, podemos fazer uma analogia para algo que está muito na moda. O Engajamento das pessoas. Existem vários fatores que influenciam obviamente o engajamento no trabalho, além da remuneração, mas este último é crítico neste processo. É a mesma coisa se acharmos que um acionista da empresa vai continuar engajado no negócio sem um bom retorno do seu investimento. No caso extremo, o empregado procura outro emprego e o acionista uma outra empresa para investir. Não há diferença alguma.  

Outro dia li nos jornais um CEO de um grande grupo internacional dizendo que os seus executivos não irão receber o bônus este ano. Imaginei que a empresa pudesse ter tido um enorme prejuízo. Não foi isso o que aconteceu. A empresa teve um grande lucro, mas não atingiu a meta que os acionistas ou a direção desejava. Portanto, a empresa teve um bom rendimento, mas quer penalizar os seus executivos, que mesmo numa condição bastante adversa do mercado, trabalharam intensamente para a obtenção deste ganho, apenas ficaram abaixo da meta. Será que isso é justo? Será que essa decisão, fortalece o conceito de “dono do negócio”? Será que não seria mais justo partilhar proporcionalmente com os executivos, considerando o resultado menor? Será que a empresa pensa que se fizer isso, irá desestimular os seus executivos para o próximo ano? Se positivo, deveria avaliar melhor a qualidade dos seus executivos e a sua relação de confiança com eles.

Em resumo, as empresas precisam sair do discurso de “donos do negócio” para efetivamente terem um sistema remuneratório que faça de fato as pessoas se sentirem e serem tratadas como tal. Quando isso acontecer, eu tenho certeza que o comportamento e a atitude dos colaboradores será totalmente diferente e, além disso, o impacto no negócio certamente será muito maior.

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