LIDERANÇA É MUITO MAIS DO QUE ISSO….

Ultimamente tem sido publicado muitas definições, artigos, e livros sobre Liderança. Parece que de repente muita gente resolveu falar deste assunto. Isso para não falar de “coaching” para Líderes. Basta sair um livro novo, ou algum tema de liderança vindo dos “gurus” do estrangeiro para logo tudo isso ser transformado em produto, palestras, workshops, etc. Nunca vi tanta gente expert em Liderança….

Pessoalmente, sinto falta de uma abordagem ou uma conversa sobre Liderança baseada em experiências vividas, fracassos e acertos, ou seja, coisas práticas que possam ensinar como fazer melhor para o futuro. Também gostaria de ouvir uma conversa sobre Liderança e os seus impactos no “real life” do negócio. Há muita temática em torno de “comportamento” e muito pouca em matéria de competências que agregam valor ao negócio, ou mesmo de processos de decisão, direcionamento, decisões estratégicas, delegação planejada, etc. Na minha modesta visão, está faltando uma abordagem mais pragmática da função do Líder nos seus vários níveis, e como estes podem influenciar ou impactar para que o negócio tenha uma melhor performance.

Não falo isso com espírito crítico, mas com um desejo genuíno de ver uma evolução nesta discussão. O próprio exemplo do País em relação ao seu modelo de Liderança, é uma prova real da qualidade de Liderança existente no Brasil. Claro que não podemos generalizar, mas isto demonstra que estamos muito longe de outros Países desenvolvidos no mundo. Na maioria das vezes, o que prevalece no perfil do Líder no Brasil, é a sua capacidade de relacionamento pessoal, e geralmente se cerca de pessoas que têm um alinhamento de personalidade parecido com o seu. O resultado é que muitas vezes, o relacionamento pessoal acaba sendo mais importante do que a busca do resultado de forma pragmática e objetiva. É uma questão cultural. O Brasil é um País do relacionamento e os Líderes preferem preservar essas relações, muitas vezes, em detrimento de alcançar um resultado mais promissor para o negócio. Precisamos desenvolver uma maior profundidade no desenvolvimento dos nossos Líderes, além do comportamental.

Quer um exemplo disso? Ao longo da minha vida profissional em RH, muitas vezes me deparei com pessoas que foram demitidas, sem que houvessem recebido feedbacks dos seus líderes. Nem mesmo na hora da demissão houve clareza do Líder para explicar porque a pessoa estava sendo demitida. Em geral os Líderes no Brasil têm receio de dar feedback real para os seus liderados, para não comprometerem a sua relação pessoal com o subordinado. É claro que existem exceções, mas é o que se vê muitas vezes por aí. Outras vezes me deparei com times, que estavam perdidos, sem saber por onde ir por falta de direcionamento.

A maioria dos programas de desenvolvimento de Liderança são focados no “comportamental”, o que não tem nada de errado, mas precisamos avançar mais em outras competências que caracterizam a liderança.
Conheço muitas empresas de grande porte que não utilizam a potencialidade e a experiência das sua Liderança sênior, e como resultado estão sempre reinventando a roda. Quando custa isso para o negócio? Precisam avaliar melhor o custo de retroceder e começar tudo de novo. Em tempos de vacas gordas, este custo passa desapercebido, mas basta uma primeira crise para ficar claro este custo, e a falta de Liderança preparada para superar a crise. E o pior a empresa fica que nem barata tonta, tentando achar uma saída.

Em momentos de voo com turbulência, mal tempo, tempestade, etc. é um comandante experiente e preparado, do ponto de vista prático, quem sabe o que fazer com o avião nestas circunstâncias. Não basta apenas ter estudado tudo do avião, saber o seu funcionamento, como pilotar numa hora como essa, ou ser muito inteligente. É preciso ter sabedoria para tomar certas decisões. Não basta apenas o “comportamento” de Líder, nessas horas, porque Liderança é muito mais do que isso. É saber comandar corretamente e saber o que está fazendo, porque já vivenciou e experimentou situações que o qualificam para tomar a melhor decisão. O que faz um bom Líder são todas as “guerras” que ele já enfrentou, além obviamente do seu preparo para a função.

Em resumo, espero ver mais publicações, artigos, livros etc abordando mais de Liderança através de casos práticos, de experiências, fracassos e vitórias. Precisamos de uma conversa nesta área mais balanceada entre “negócio” e “comportamento”. Não porque uma é mais ou menos importante do que a outra, mas sim porque há na minha visão há um excesso de conversa em torno de “comportamento”. Sabemos que liderar é muito mais do que isso. Se genuinamente queremos preparar as empresas no Brasil para enfrentarem a competição global, precisaremos repensar como instrumentar as nossas Lideranças para o futuro.