segunda-feira, 20 de julho de 2015

VOCÊ QUER TRABALHAR FORA DO BRASIL?


Muita gente que conheço ou com quem trabalhei tem este desejo de trabalhar fora do Brasil. De um modo geral, quando elas manifestam esta vontade, estão falando de trabalhar nos Estados Unidos ou Europa, preferencialmente. Alguns poucos aceitariam trabalhar em certos Países da América Latina, mas não é a preferência ou primeiro desejo que se manifesta. É simples de entender. As pessoas querem trabalhar em Países que ofereçam desafios e condições de vida superiores das que já têm no Brasil. É natural este desejo no meu ponto de vista, embora existam oportunidades muito interessantes em toda América Latina.
Na minha vida profissional tive duas oportunidades de ser transferido para trabalhar nos Estados Unidos. A primeira vez eu trabalhava na Dow Química, na área de Recursos Humanos, cujo o Diretor da área na época era um Americano. Recordo até hoje o nome dele: Ted Edgecom. Eu era muito jovem, recém-formado na faculdade de Economia, quando fui convidado para trabalhar fora. O meu Inglês era muito precário, entretanto a empresa identificou em mim um potencial para este tipo “assignment”. Confesso que fiquei apavorado, mas anos mais tarde percebi que foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida profissional. Passei uma temporada nos Estados Unidos em torno de um ano, trabalhando no escritório da América Latina em Miami e posteriormente numa Fábrica próximo de Baton Rouge na Louisiania. A empresa além de investir no meu desenvolvimento profissional, investiu no meu desenvolvimento do idioma durante todo este período.  
Alguns aprendizados dessa primeira experiência. Nenhuma empresa envia para o exterior um profissional se este não for percebido como de alto potencial para o desenvolvimento ou agregador de valor no caso de um profissional mais experiente. Trabalhar numa cultura muito diferente do próprio País de origem requer uma alta dose de capacidade de adaptação e aceitação de que as coisas são feitas de forma diferente. Portanto, em Roma como os Romanos. Outro fator importante é a pessoa estar aberta à novas experiências, que podem em alguns casos serem boas e em outros nem tanto.
Nesta primeira experiência além de ganhar vivência e conhecimento profissional avançado, tive oportunidade de desenvolver o Inglês e conviver com uma cultura diferente do meu País de origem, o que me amadureceu muito. Tive que entender a diversidade do mundo e suas diferentes culturas e comportamentos. Esses ganhos pessoais aliados aos profissionais foram de fundamental importância para o início da construção da minha carreira.
Anos mais tarde, já como Diretor de Recursos Humanos da Monsanto, recebo um outro convite para trabalhar nos Estados Unidos, especificamente na cidade de Saint Louis no Missouri. Casado, com duas filhas adolescentes, naturalmente esta decisão foi muito mais complexa. Outras vidas estavam envolvidas neste projeto, e precisavam ser avaliadas. Mais uma vez topei a parada.
 A minha função inicial foi ser Diretor de Recursos Humanos para América Latina Norte, à partir dos Estados Unidos. Tinha responsabilidade por Gestão de Pessoas para o México, América Central, Caribe e Região Andina.  O trabalho que eu vinha realizando no Brasil me qualificou para assumir uma responsabilidade maior nos Estados Unidos. O meu domínio do idioma Inglês também foi um fator chave, além do conhecimento de Espanhol, para a posição em questão. O timing de carreira, ou seja a combinação da idade, tempo de empresa, experiência, e maturidade foram fundamentais para que eu recebesse este convite.
Assumir uma posição de Diretor em outro País comandando pessoas de várias nacionalidades, requer uma habilidade muito grande de liderança, conhecimento, flexibilidade e fundamentalmente de comunicação. Foram dois anos nesta função, até que apareceu outro convite: ser Diretor de Recursos Humanos para as áreas de Tecnologia da Monsanto Corporativa em St. Louis. Este desafio era muito mais complexo, pois tratava-se de uma função na estrutura Americana e não mais na área Internacional.
Do ponto de vista de vida pessoal, desde o início a grande preocupação era a adaptação da família neste novo ambiente, o que não é nada fácil. Especialmente para as duas adolescentes que largaram para trás os amigos, escola, e tinham que refazer e conquistar novas amizades neste novo ambiente. Quem é exposto a um desafio como este tem que pensar nos aspectos profissionais envolvidos, bem como nos familiares. É impossível ter sucesso numa experiência internacional desta complexidade se a família não estiver adaptada, feliz, e se realizando. Conheci vários casos de fracasso, pela não adaptação da família no novo País.
O resumo destes mais de 3 anos nos Estados Unidos, do ponto de vista profissional e pessoal foram de muito sucesso e realização plena. Do ponto de vista profissional eu poderia ter continuado nos Estados Unidos a pedido da minha liderança local, embora por motivos pessoais tenha decidido retornar para a Monsanto no Brasil. Do ponto de vista pessoal a família ganhou experiência de vida, de desenvolvimento, especialmente em relação ao idioma, que trazem benefícios até hoje e deverá trazer ainda muito mais para o futuro.
A capacidade de adaptação, flexibilidade e resiliência é fundamental para uma experiência de trabalho e vida no exterior. Por mais complexa que seja a decisão, e os desafios que se terá que enfrentar, vale muito a pena. Os ganhos profissionais e pessoais são imensuráveis e de alto retorno. Ganha o profissional, ganha a família e transforma as pessoas em cidadãos do mundo.

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