Muita gente que conheço ou com quem trabalhei tem este
desejo de trabalhar fora do Brasil. De um modo geral, quando elas manifestam esta
vontade, estão falando de trabalhar nos Estados Unidos ou Europa,
preferencialmente. Alguns poucos aceitariam trabalhar em certos Países da
América Latina, mas não é a preferência ou primeiro desejo que se manifesta. É
simples de entender. As pessoas querem trabalhar em Países que ofereçam
desafios e condições de vida superiores das que já têm no Brasil. É natural este
desejo no meu ponto de vista, embora existam oportunidades muito interessantes
em toda América Latina.
Na minha vida profissional tive duas oportunidades de ser
transferido para trabalhar nos Estados Unidos. A primeira vez eu trabalhava na
Dow Química, na área de Recursos Humanos, cujo o Diretor da área na época era
um Americano. Recordo até hoje o nome dele: Ted Edgecom. Eu era muito jovem,
recém-formado na faculdade de Economia, quando fui convidado para trabalhar
fora. O meu Inglês era muito precário, entretanto a empresa identificou em mim
um potencial para este tipo “assignment”. Confesso que fiquei apavorado, mas
anos mais tarde percebi que foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida
profissional. Passei uma temporada nos Estados Unidos em torno de um ano,
trabalhando no escritório da América Latina em Miami e posteriormente numa
Fábrica próximo de Baton Rouge na Louisiania. A empresa além de investir no meu
desenvolvimento profissional, investiu no meu desenvolvimento do idioma durante
todo este período.
Alguns aprendizados dessa primeira experiência. Nenhuma
empresa envia para o exterior um profissional se este não for percebido como de
alto potencial para o desenvolvimento ou agregador de valor no caso de um
profissional mais experiente. Trabalhar numa cultura muito diferente do próprio
País de origem requer uma alta dose de capacidade de adaptação e aceitação de
que as coisas são feitas de forma diferente. Portanto, em Roma como os Romanos.
Outro fator importante é a pessoa estar aberta à novas experiências, que podem
em alguns casos serem boas e em outros nem tanto.
Nesta primeira experiência além de ganhar vivência e
conhecimento profissional avançado, tive oportunidade de desenvolver o Inglês e
conviver com uma cultura diferente do meu País de origem, o que me amadureceu
muito. Tive que entender a diversidade do mundo e suas diferentes culturas e
comportamentos. Esses ganhos pessoais aliados aos profissionais foram de
fundamental importância para o início da construção da minha carreira.
Anos mais tarde, já como Diretor de Recursos Humanos da
Monsanto, recebo um outro convite para trabalhar nos Estados Unidos,
especificamente na cidade de Saint Louis no Missouri. Casado, com duas filhas
adolescentes, naturalmente esta decisão foi muito mais complexa. Outras vidas
estavam envolvidas neste projeto, e precisavam ser avaliadas. Mais uma vez
topei a parada.
A minha função
inicial foi ser Diretor de Recursos Humanos para América Latina Norte, à partir
dos Estados Unidos. Tinha responsabilidade por Gestão de Pessoas para o México,
América Central, Caribe e Região Andina. O trabalho que eu vinha realizando no Brasil
me qualificou para assumir uma responsabilidade maior nos Estados Unidos. O meu
domínio do idioma Inglês também foi um fator chave, além do conhecimento de
Espanhol, para a posição em questão. O timing de carreira, ou seja a combinação
da idade, tempo de empresa, experiência, e maturidade foram fundamentais para
que eu recebesse este convite.
Assumir uma posição de Diretor em outro País comandando
pessoas de várias nacionalidades, requer uma habilidade muito grande de
liderança, conhecimento, flexibilidade e fundamentalmente de comunicação. Foram
dois anos nesta função, até que apareceu outro convite: ser Diretor de Recursos
Humanos para as áreas de Tecnologia da Monsanto Corporativa em St. Louis. Este
desafio era muito mais complexo, pois tratava-se de uma função na estrutura
Americana e não mais na área Internacional.
Do ponto de vista de vida pessoal, desde o início a grande
preocupação era a adaptação da família neste novo ambiente, o que não é nada
fácil. Especialmente para as duas adolescentes que largaram para trás os
amigos, escola, e tinham que refazer e conquistar novas amizades neste novo
ambiente. Quem é exposto a um desafio como este tem que pensar nos aspectos
profissionais envolvidos, bem como nos familiares. É impossível ter sucesso
numa experiência internacional desta complexidade se a família não estiver
adaptada, feliz, e se realizando. Conheci vários casos de fracasso, pela não
adaptação da família no novo País.
O resumo destes mais de 3 anos nos Estados Unidos, do ponto
de vista profissional e pessoal foram de muito sucesso e realização plena. Do
ponto de vista profissional eu poderia ter continuado nos Estados Unidos a
pedido da minha liderança local, embora por motivos pessoais tenha decidido
retornar para a Monsanto no Brasil. Do ponto de vista pessoal a família ganhou
experiência de vida, de desenvolvimento, especialmente em relação ao idioma,
que trazem benefícios até hoje e deverá trazer ainda muito mais para o futuro.
A capacidade de adaptação, flexibilidade e resiliência é
fundamental para uma experiência de trabalho e vida no exterior. Por mais
complexa que seja a decisão, e os desafios que se terá que enfrentar, vale
muito a pena. Os ganhos profissionais e pessoais são imensuráveis e de alto
retorno. Ganha o profissional, ganha a família e transforma as pessoas em
cidadãos do mundo.
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