A ideia fundamental do conceito da economia comportamental em
gestão de pessoas, é desmistificar que todas as decisões neste campo são baseadas
na racionalidade. O mundo dos negócios obviamente, desejaria que tudo fosse
racionalmente previsível, mas todos sabemos que quando lidamos com pessoas,
isso é impossível. É só observar nos diferentes campos da atuação humana, o
quanto são decisões racionais e quanto não são.
A Gestão de Recursos Humanos dentro das organizações tem
como objetivo principal encontrar o melhor talento humano que possa trazer os
melhores resultados para a empresa do ponto de vista de negócio. Portanto, o
objetivo é absolutamente racional e pragmático. Entretanto se isso fosse absolutamente
matemático, não haveria necessidade de trocar ou demitir pessoas ao longo do
tempo. Não seria necessário desenvolver e treinar estes talentos, uma vez que
racionalmente a empresa buscou o melhor talento no mercado, e pressupõe-se que
já tenha vindo preparado e treinando para executar a função.
Do ponto de vista da Liderança, é muito claro que a sua
principal responsabilidade é dar direcionamento e coordenar a atividade de
várias pessoas para que o objetivo do negócio seja plenamente atingido. Na prática
vemos que as empresas têm que dedicar uma quantidade enorme de recursos para
preparar e desenvolver a liderança de forma plena em constante. Quantas
decisões são tomadas por estas lideranças que muitas vezes resultam em piora do
resultado? Escolhas mal feitas de pessoas, decisões mal analisadas, reações
emocionais, posturas vaidosas, brigas de poder, e outras tantas coisas que são
por natureza irracionais e que não têm nada a ver com as decisões racionais
necessárias para o bom desenvolvimento do trabalho.
Outro capítulo que precisa ser bem cuidado, e que tem um
grande risco de irracionalidade, são as contratações e as promoções. Há uma
grande tendência nas contratações das pessoas, de os líderes quererem escolher aqueles
que são muito semelhantes a eles mesmos. Essas decisões, em muitos casos,
afastam a empresa da escolha do melhor colaborador, que produzirá os melhores
resultados para a organização. Sem considerar outros elementos num processo de
seleção, que muitas vezes inconscientemente, determinam certas decisões em
função da empatia, da relação, da indicação, da afinidade, etc.
Seguindo adiante, outro tema que precisa ser cuidado da melhor
forma racional possível, trata das promoções dentro das organizações. Uma boa
parte delas é feito com critérios concretos e indicadores racionais, mas muitas
são baseadas na relação humana, ou outros indicadores como capacidade política,
relação de amizade, etc. Quando a decisão é feita dentro de critérios pessoais
e de relacionamento, em muitos casos corre-se o risco de não se tomar a melhor
decisão e a mais racional para o resultado do negócio. É por esta razão que vemos
tantas discussões e até mesmo insatisfações dentro das empresas, tendo em vista
que as escolhas acabam sendo erradas.
Isso me fez recordar uma das multinacionais em que eu
trabalhei, onde vários profissionais foram expatriados para os Estados Unidos.
Essas escolhas obviamente eram técnicas, e passavam por vários avaliadores para
assegurar de que os profissionais eram os melhores nos seus campos de
atividade. Após alguns anos se desenvolvendo no exterior, em princípio, estes
profissionais valiam mais para a empresa, em virtude dos investimentos
realizados. Mas o que acontecia com eles quando retornavam ao país? A grande
maioria acabava saindo da empresa, pois as lideranças que os enviaram para o
exterior já não estavam na empresa ou estavam em outras posições. Os novos
líderes pouco valorizaram os investimentos feitos nesses profissionais, e
acabavam perdendo-os para o mercado. Quanto dinheiro é jogado fora nas empresas
em várias áreas, por pessoas que agem desta forma?
Decisões deste tipo ocorrem em muitas áreas na gestão de
pessoas. As áreas de benefícios e remuneração são outras que impactam
fortemente nos custos das empresas, entretanto muitas decisões são feitas de
forma emocional ou pouco racional. No momento de dar um aumento salarial, uma
promoção, ou mesmo um pagamento de bônus, muitas vezes os líderes o fazem
usando julgamento ou critérios mais de ordem pessoal do que técnico. Essas
decisões acabam vazando e criando problemas no ambiente de trabalho e na
motivação das pessoas.
Resumindo, em matéria de gestão de pessoas, as empresas
precisarão cada vez mais desenvolver critérios que minimizem decisões pessoais
versus técnicas ou racionais. As variáveis comportamentais são enormes e
precisam ser bem gerenciadas para a assegurar a melhor justiça organizacional
possível e o melhor resultado para o negócio, embora saibamos que a natureza
humana, faz coisas que são irracionais, em todos os campos de atividades.
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