Tenho escutado bastante esta frase
ultimamente. As pessoas estão trabalhando num ritmo tão alucinado, que sobra pouco
tempo para outras atividades na vida. Parece que a vida nos últimos anos se
resumiu em trabalhar intensamente da manhã à noite. É um grande paradoxo.
Quando se achava que a tecnologia iria trazer mais eficiência nos processos, e
com isso sobrar mais tempo para outras atividades, o que aconteceu? Foi
exatamente o contrário. Todo este avanço trouxe uma sobrecarga de trabalho para
as pessoas, sem precedentes. Quando se pensava que seria mais fácil ser feliz,
fazendo as maquinas trabalharem para nós, o que aconteceu foi exatamente o
inverso desta expectativa.
Quem trabalha em grandes empresas
recebem 100, 200, e-mails por dia. Parece que o trabalho agora se resume em
mandar e receber e-mails. E quanto lixo roda nessas mensagens eletrônicas, que
são indesejados, mas não tem como controlar. Lembro que quando comecei a
trabalhar numa multinacional americana na década de 70, para enviar uma única
carta para os Estados Unidos levava 15 dias. E o curioso é que sobrevivíamos e
produzíamos resultados.
Sou totalmente a favor da modernidade.
Os benefícios são imensos em todos os campos da atividade humana. A minha
reflexão é: Será que a velocidade foi exagerada? Será que não estamos
valorizando em demasia a tecnologia em detrimentos de outras competências
humanas? Será que temos um balanço adequado
entre a carga de trabalho, e a capacidade humana de realiza-lo?
As empresas cada vez buscam reduzir
os seus quadros de profissionais, em busca de maior eficiência econômica e
competitividade. Até aí nada errado, mas quem fica na empresa tem cada vez mais
coisas para fazer, num ritmo frenético e numa pressão psicológica enorme. Será
que a longo prazo isso será bom para as empresas?
Quando converso com os jovens, na
maioria das vezes não sinto que estão felizes nos seus empregos. Gostam da
profissão que escolheram, até porque existem hoje muitas possibilidades de
carreira, mas não se sentem realizados onde trabalham. O sonho da maioria em
geral, é ter o seu próprio negócio ou desenvolver uma plataforma ou aplicativo
na internet para ganhar dinheiro e ser mais feliz. Acho que este comportamento
deveria ser um sinal para as empresas com relação ao seu ambiente de trabalho. No
futuro o que vai concorrer para contratar as pessoas talentosas, não serão as
empresas competindo entre si, mas outras formas de trabalho que sejam mais
atrativas para as pessoas, com mais qualidade de vida. Creio que está na hora
das empresas refletirem a respeito disso.
O mais engraçado é que, muitas
vezes, as empresas ficam fazendo coisas que são verdadeiros paliativos, para
não dizer algo mais contundente. Criam escritórios com poltronas, sofás, mesa
de sinuca, barzinho, áreas de descompressão. Depois faz a pessoa trabalhar 10,
12, 15 horas por dia e se manter conectado o tempo todo inclusive no final de semana.
Todo mundo acha isso moderninho, mas na minha visão é um tema que demanda mais
reflexão. Muitas vezes também gastam um monte de dinheiro em pesquisa de clima
e participam da pesquisa das melhores empresas para se trabalhar, para se auto convencerem
de que está tudo bem. Discutem sobre como engajar mais as pessoas no trabalho,
entretanto o nível de stress e de pressão por resultado, não pára de aumentar.
Entendo que sempre existirá uma
pressão por resultados, por eficiência, etc. e isso faz parte do mundo
capitalista que vivemos. O que eu não entendo é perceber que as pessoas estão
cada vez mais infelizes com o seu trabalho. Muitas aguentam esta situação,
porque são pragmáticas, e sabem que precisam do dinheiro para pagar as contas.
Por outro lado, vejo as empresas tratando este assunto de maneira superficial.
Não adianta ficar discutindo como engajar mais as pessoas se não se aprofundar na
análise da carga de trabalho e das demandas existentes. Será que a estrutura
organizacional é adequada para a carga de trabalho? Será que a quantidade de
pessoas é suficiente para atender a necessidade do negócio? Quanto a empresa
está investindo no desenvolvimento das pessoas para serem mais eficientes?
Se você quer atender bem o seu
cliente, tem que começar por cuidar bem do seu colaborador. Se este não estiver
feliz no seu trabalho, não irá produzir o resultado esperado, e não se sentirá jamais
como dono do negócio.
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