Lendo um artigo no jornal desta semana, um Cientista
Político Americano se referia ao Brasil como uma Economia “Soft Power” e por
isso não consegue alcançar níveis internacionais de competitividade e
produtividade. A matéria, que é bem realista, desperta certa raiva, pois o
autor é bastante crítico com relação a nossa forma de agir perante outras
economias no mundo. Como já morei e trabalhei duas vezes nos Estados Unidos, consegui
interpretar o que foi descrito. O Brasil é uma Economia ainda bastante fechada,
o que faz os empresários, de uma certa forma, se acomodarem no desenvolvimento
dos seus produtos. Se tivéssemos uma Economia aberta para valer, talvez muita
gente não sobreviveria por falta de competitividade, tecnologia, baixos
investimentos, etc. Como temos um mercado de 200 milhões de pessoas, isso
permite que muitos empresários consigam se manter ativos, mesmo sendo pouco
competitivos dentro do padrão internacional. Do ponto de vista macro mundial, o
Brasil prefere adotar uma política “Soft Power”, sem ter uma posição de
liderança mais expressiva. Se considerarmos o tamanho do nosso País, já era
hora para termos uma posição mais relevante no cenário mundial. Só que, para
liderar precisa se “expor” para poder se “impor”. Isso parece não ser muito o
nosso estilo, culturalmente falando. Não queremos assumir uma posição mais agressiva,
que eventualmente vá criar inimigos ao longo do caminho.
Não há na história nenhuma nação que foi dominante, que não
tenha criado problemas, ou competições, com outras nações. O único lugar que
temos uma postura diferente é quando falamos de futebol, e mais recentemente de
alguns outros esportes. Temos mostrado mais o nosso perfil agressivo neste
campo, porém muito menos em se tratando de negócios, na minha modesta maneira
de ver. Poucos são os setores que se destacam mundialmente por nossa postura
mais agressiva. Um bom exemplo é a agricultura e nos minerais onde nos
destacamos. Temos uma condição natural de competitividade sem precisar de muito
esforço, no sentido de liderança, para ter um papel relevante. Outra exceção
tem sido a Ambev, e a Embraer, mas ainda é muito pouco.
Se este cenário fizer sentido, e para mim faz, isso reflete
diretamente no nosso perfil de Liderança dentro das organizações. De um modo
geral, com algumas exceções, as Lideranças no Brasil são do tipo “Soft Power”,
talvez influenciado com o nosso tipo de cultura. Somos uma cultura do
relacionamento, muito diferente dos Países Europeus e dos Estados Unidos. Estes
são culturas mais de processos e sistemas. Talvez por isso levam muitas vantagens
nas negociações internacionais. Não se importam muito como as pessoas ou os
Países se sentirão, desde que o resultado para eles seja plenamente atendido.
Voltando para este perfil da Lideranças nas empresas, dentro
da nossa cultura os Líderes se preocupam muito com a sua aceitação pelos
liderados. Em geral não gostam de ser muito “duros”, na busca de um resultado,
pois isso poderão criar um ambiente muito beligerante impactando negativamente
o relacionamento entre as pessoas. Por este motivo, em nossa cultura dar ou
receber feedback é tão difícil, porque as pessoas muitas vezes não diferenciam
o que é uma crítica profissional ou pessoal. Se a crítica for positiva, não tem
problema, mas se for negativa, existe uma grande tendência de ser compreendida
como uma crítica à pessoa e não ao trabalho.
Isso leva a Liderança a adotar uma postura “Soft Power”.
Obviamente que existem exceções no mercado, especialmente nas empresas
multinacionais, tendo em vista que estas trazem muito a cultura dos seus Países
de origem. Ora, se temos um tipo de Liderança “Soft Power”, obviamente que a
nível macro isso vai impactar a postura do Brasil, com relação aos seus
negócios comparativamente a outros Países no mundo. Se queremos de fato ser
competitivos para valer, teremos que mudar muito a nossa postura em relação a
Liderança, tanto individual como quanto nação. A pergunta que eu faço é: Será
que queremos mudar isso? Será que as Lideranças Empresarias e Políticas têm o
desejo de fazer esta transformação para o País ser mais competitivo e
protagonista no mundo? Se não avançarmos neste campo, dificilmente teremos um papel de Liderança e protagonismo no cenário mundial.
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