As empresas sonham e desejam que
todos os seus colaboradores se comportem como verdadeiros donos do negócio.
Acho o conceito muito bom, porém na hora da remuneração, as organizações querem
pagar apenas como empregado. Esta equação fica difícil de fechar, porque a remuneração
das pessoas influencia diretamente o seu comportamento. Por exemplo: para o
pessoal mais operacional, quando é exigido trabalho extraordinário, estes
recebem pelas horas extras adicionais. Muitas vezes o problema das empresas é
controlar o excesso dessas horas, para não virar um “hábito” e se incorporar no
pagamento das pessoas. A dificuldade neste nível é que muitas vezes, a
remuneração é baixa, e os funcionários buscam fazer horas extras para terem um
ganho adicional.
Quando analisamos as categorias
acima do operacional, que muitas empresas definem de forma equivocada como
cargos de confiança para não pagarem horas extras, o comportamento
colaborativo, muitas vezes não é tão espontâneo. Ao contrário, quando alguém
tem que fazer horas extraordinárias o sentimento é de “exploração”, de abuso
por parte da empresa. Não há compensação remuneratória neste caso, mas apenas
uma obrigação de colaborar, para ficar bem com o chefe, ou mesmo não correr o
risco de perder o emprego por falta de colaboração.
Indo um pouco mais acima, chegamos
aos cargos gerenciais, que por sua natureza são considerados efetivamente como
“funções de confiança”. Essas posições, quando muito recebem um PLR um pouco
mais diferenciado, ou um bônus, que na maioria das vezes é bastante limitado.
Só que boa parte do comando das operações das organizações está nas mãos desta
liderança intermediária, que fica entre a Direção e as funções operacionais.
Avançando um pouco mais chegamos aos
cargos de Direção. Este nível, além da remuneração fixa, tem uma bonificação
melhor e outros benefícios em função da competitividade do mercado. Mesmo
nestes níveis, os pagamentos têm maior ênfase no salário fixo do que na parte
variável, baseada em resultado. Claro, como tudo, há exceções no mercado.
O paradoxo que as empresas
vivenciam é que elas desejam que as pessoas tenham comportamento de “donos do
negócio”, mas em geral não possuem um sistema de remuneração variável,
correspondente a este desejo. Esta situação acontece basicamente em todos os
níveis da organização. Como uma empresa pode exigir este comportamento, se
muitas vezes o resultado alcançado não será compartilhado de uma forma mais
efetiva entre as pessoas? Um verdadeiro dono do negócio, se tiver que virar a
noite ou trabalhar no final de semana, o fará porque sabe que o resultado será
compensador. Por outro lado, uma pessoa que é empregada, ao fazer a mesma coisa
sem resultado adicional na sua remuneração, provavelmente não terá a mesma
motivação e comportamento do “dono do negócio”. É uma questão de lógica. Talvez
o faça somente por uma motivação pessoal ou mesmo receio de perder o emprego.
Da mesma forma, podemos fazer uma
analogia para algo que está muito na moda. O Engajamento das pessoas. Existem
vários fatores que influenciam obviamente o engajamento no trabalho, além da
remuneração, mas este último é crítico neste processo. É a mesma coisa se acharmos
que um acionista da empresa vai continuar engajado no negócio sem um bom
retorno do seu investimento. No caso extremo, o empregado procura outro emprego
e o acionista uma outra empresa para investir. Não há diferença alguma.
Outro dia li nos jornais um CEO de
um grande grupo internacional dizendo que os seus executivos não irão receber o
bônus este ano. Imaginei que a empresa pudesse ter tido um enorme prejuízo. Não
foi isso o que aconteceu. A empresa teve um grande lucro, mas não atingiu a
meta que os acionistas ou a direção desejava. Portanto, a empresa teve um bom rendimento,
mas quer penalizar os seus executivos, que mesmo numa condição bastante adversa
do mercado, trabalharam intensamente para a obtenção deste ganho, apenas
ficaram abaixo da meta. Será que isso é justo? Será que essa decisão, fortalece
o conceito de “dono do negócio”? Será que não seria mais justo partilhar
proporcionalmente com os executivos, considerando o resultado menor? Será que a
empresa pensa que se fizer isso, irá desestimular os seus executivos para o
próximo ano? Se positivo, deveria avaliar melhor a qualidade dos seus
executivos e a sua relação de confiança com eles.
Em resumo, as empresas precisam
sair do discurso de “donos do negócio” para efetivamente terem um sistema
remuneratório que faça de fato as pessoas se sentirem e serem tratadas como tal.
Quando isso acontecer, eu tenho certeza que o comportamento e a atitude dos
colaboradores será totalmente diferente e, além disso, o impacto no negócio
certamente será muito maior.
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