Tenho me dedicado a desenvolver vários programas de remuneração para as
empresas ao longo dos anos. Sejam programas de remuneração fixa ou variável ou
estratégica para altos executivos ou força de vendas. Nestes anos de atuação
nesta área, publiquei um livro intitulado “Pagamento por Desempenho” ou “Pay
for Performance”, por este ser um tema comum de discussão. A remuneração não motiva,
mas pode desmotivar. Confesso que tenho lá as minhas dúvidas, embora muitos
estudos e pesquisas de opinião apontem para este resultado.
Pode ser que estas pesquisas tenham um viés de induzir as pessoas a
relativizarem o aspecto remuneratório quando comparado com outros elementos
como a carreira, a liderança, o ambiente de trabalho, etc. A razão talvez
esteja no fato de que todos estes componentes são determinantes para se ter uma
boa remuneração. Em outras palavras, o salário acaba sendo consequência destes
fatores e não a causa propriamente dita. Entretanto existem outros estudos que
mostram que uma das principais causas de mudança de emprego, é a remuneração.
Também é um dos principais atrativos na oferta de um novo emprego, o pacote
remuneratório.
Quando analiso o salário por estes dois ângulos, confesso que fico em
dúvida com relação à remuneração ser ou não um fator de motivação. Talvez
tenhamos que fatiar o pacote salarial em partes.
O pagamento fixo tem um caráter de pagar pela responsabilidade da
função. Ou seja, é a contrapartida de um trabalho, e talvez seja
percebido pelas pessoas apenas como algo “obrigatório”, uma vez que este é
trocado por um trabalho realizado. Em outras palavras, não passa de uma
obrigação contratual de quem presta o serviço e quem contrata o respectivo trabalho.
Em alguns Países da Ásia, o fato de uma pessoa ter um emprego e o respectivo salário,
já é por si só um fator de distinção e privilégio. É possível que neste
contexto o salário tenha um significado maior do que simplesmente a
contrapartida de um trabalho.
Se analisarmos um outro componente da remuneração, relativa à parte
variável, creio que teremos uma resposta um pouco diferente. Todos nós sabemos
que, se existe algo que motiva o pessoal de vendas é a “comissão de vendas”. Todas
as pessoas que, de uma forma ou de outra, têm uma parte de sua remuneração
atrelada à “comissão de vendas” ou ao “incentivo de vendas”, sentem-se
altamente motivadas por isso. Se não fosse verdade, a maioria das empresas no
varejo, ou mesmo no setor industrial ou de serviços, não faria isso. Muitas
vezes a parte relativa a essas “comissões” são mais importantes do que o
próprio salário fixo.
Se partirmos para analisar a remuneração variável nos níveis executivos,
também vamos encontrar uma resposta diferente. Nas grandes empresas, sejam
Brasileiras ou Multinacionais, a partir de um certo nível, é muito comum se
pagar Bônus ou Incentivos Gerenciais. Na verdade, isso deveria ser até mais
ampliado com o advento do PLR –Participação do Lucros e Resultado, entretanto
em muitas empresas este processo foi mal desenvolvido e a percepção muitas
vezes é que isto é algo negociado pelo Sindicato, e acaba se transformando num
14º salário. Voltando ao Bônus ou Incentivos gerenciais, o que se nota é um
grande impacto motivacional. As pessoas trabalham fortemente para alcançarem os
resultados das suas metas e dos objetivos da organização, pois sabem que isto
redundará em um adicional à sua remuneração. Este pagamento acaba sendo
relevante para as pessoas porque são eles que custeiam viagens da família no
fim de ano, troca de carro, etc., até mesmo para ajudar na troca de moradia.
Portanto tem um aspecto motivacional muito grande e por esta razão, cada vez
mais, vemos empresas agregando esta prática no seu portfólio remuneratório.
Em um nível mais avançado encontramos empresas que além de pagarem o
salário fixo, pagam o bônus/PLR baseado no resultado do exercício, mas acham
que isso não é suficiente. Querem que as pessoas do alto nível se motivem para
aumentar o valor da empresa, que é traduzido para o mercado pelo valor da ação.
Essas empresas, adicionalmente a tudo que falamos anteriormente, possuem
programas de Opções de Ações “Stock Options” ou Ações Restritas “Restrict
Stocks”, que são pagos para os seus altos executivos. Se conversarmos com este
grupo de pessoas vamos notar que este tipo de pagamento é altamente
motivacional, pois pode representar a variação patrimonial da pessoa, caso os
objetivos da empresa sejam alcançados.
Se isto que estamos relatando fizer sentido, falar que remuneração não
motiva, mas pode desmotivar, é uma simplificação na minha modesta maneira de
ver. Talvez este conceito faça sentido em se tratando de salário fixo, mas não
da remuneração quando incluímos outros componentes como foram citados acima. A
gestão da remuneração é um componente extremamente crítico do ponto de vista da
Gestão de Pessoas. Lamentavelmente, a cada dia que passa, existem menos
profissionais qualificados atuando neste campo. Precisamos resgatar a
especialização no campo da gestão da remuneração, pois estrategicamente é um
grande instrumento na gestão dos recursos humanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário